23 de outubro de 2009

As partes homogêneas separam se das heterogêneas nas ruas os corpos se enlaçam e conjugam se. Por trás dos postes a putrefação que abre caminho. A luz recusa tão decididamente qualquer tipo de fedor que por consenso provoca a escuridão. Pequenas criaturas limítrofes destroem se mutuamente. Enxertos de horizontes farpados esburacados de auroras morcegos sugados por mil mamilos. Inoxidáveis fiveladas no bico dos rouxinóis enferrujados. A cinta-liga que aos índios namora. O tempo que é história que é mentira. Cidadãos de teor precocemente vespertino encontram razão para acordar as seis da matina. O desespero que escolhe o coito faz do erotismo um roer o porco. O gozo dos moços encaixa se nas partes das bucetas gemendo culturas. O caldeirão francês se adequa às cinturas de baitolas bailam as cinderelas carcomidas por dores enquanto vespas lêem Sade e vão à desforra A sociedade que é adaga e que é maminha. A feijoada em cima da moça se aninha. São anos de mentiras patrióticas, quem sabe o cálice da verdade derramado na menina. Um torvelinho se agiganta e comove o mar com suas histórias. Brasileiros amores enfileirados nas grades das escolas. O futuro não mais inventado nas faces das crianças se faz mal-elaborado. Postos de confusões nos bairros são instalados na fundura do tráfico que emprega alguns perrapados. O mundo de oportunidades vis estendidas nos outdores os orifícios santos a todos consomem. São buracos negros aglutinados às gengivas, enquanto o tesão pela má sorte sempre aproxima o homem da morte. A dor que todo mundo tem e ninguém entende por causa do darwinismo cósmico. O mais forte e o mais fraco se aprumam nos sapatos de Apolo, são pólos apolíneos nos quais esgarçam todos os esforços. A algazarra seduz. São muitos os milhos para nós porcos.

Romiéri e Icaro.

28 de junho de 2009

Cartas salivadas por almas mancas Empilhadas no fundo desmembrado
do corpo de pernas atravessadas destinando se sem endereço de mundo
Por ruas onde formas visíveis passam numa procissão de desagradáveis odores
Flores de briófitas ornamentam o cadafalso conservando o expirro dos enforcados e a correspondência dos dentes
Girinos mastigam os próprios rabos excitados por peixes esculpidos nas profundezas do mar a disposição dos órgãos produtores de luz
A casa fede cheia de luz As sombras não são tão cheirosas quanto no escuro A fala acesa conduz
Ao santuário habitado por nádegas febris repuxadas por gôndolas enviesadas nos muros
Aos estômagos abarrotados de cristo catalisado por papas
Atalho para antropomórfica Merda
Um soco me habita enquanto nada a chinchila para o bosque onde as peles cobrem fervores domesticados com tutano
A fuga é o abandono da alma que de tanto andar deu ao ar a forma do poço

Ícaro & Romiéri

9 de maio de 2009

Preparação para as cores

Os órgãos do poeta
são inadaptáveis ao vôo.
Seu longo intestino
uma odisséia entre o seu cu e sua boca.



O dorso nulo da vaca entorta a faca sem sangrar a lâmina ou balançar o rabo. No açougue morei três anos. Sim, a narrativa é linear. Imiscuído e variegado. Plurissentido unhívoco do navegar.
Faço então uma preparação para as cores, pois a faca é minha amiga, com ela hei de me pintar. Ontem planejei um suicídio e foi por isso que me veio à cabeça um composto de cores para enfeitar penhascos.
Não vos enganarei descabaçados leitores. Queria mesmo era disfarçar-me dos abismos como a bem conhecida pequena rã, que denominarei vulgarmente perereca, a qual com sua cor verde torna se invisível entre os pentelhos dos cristais e assume um semitom virginal sobre a cauda preta, uniformemente apodrecida do piano na partida sala de estar.
Queria mesmo era ser regurgitado pela vertigem ser sêmem fora da faringe
fecundando-me ao ar das ambiciosas banalidades. Quem sabe assim a tranqüilidade e glória dos hominídeos com cara de pato. Tendo portando a oportunidade de fitar-me no espelho e ver porra nenhuma.
Mas no nosso inferno meu claro Ícaro. A cera é sempre líquida. Não nos é permitido o mimetismo por cólera ou por amor. E nossa angústia nos revela camuflados no fogo.
E nossa paixão nos anuncia amantes-carrapatos transfundindo almas sem mamar na faca.
É com leveza, com absoluta leveza, escuro Romiéri, que no dorso puro da vaca nos aninhamos. Flor, absinto e estardalhaço na noite crua do espanto. Afinal, canto o podre porque nascemos.


Romiéri e Ícaro.

20 de março de 2009

Diálogo (parte 1)

Gostaria de saber é se cabe o silêncio na tua palavra! Já que escrevo uma carta em dois tempos. A vida me trouxe alguma força sobre dizer o sentir do sentir... Poderia hoje dormir com a boca calma de fábulas, Camila, e despertar com a usura de quem soube um dia manusear no lábio fresco de quem clama "o dia nasce torto porque puxo o braço teu acima da horizontalidade mórbida dos ombros e faço pascer dias livres por sobre as antenas que confundem tua mira, teu coração que destoa da mentira... vai, me abraça, encosta teu peito no meu e chafurda estrelas no amor que você mesmo erigiu. Estrelas são como candentes lavras contornadas sobre sonhos acordados de quem pulsa espasmos sábios. Socar o chão, livrar a alma, vai, me toca, me expulsa a torta sina e arranha a minha pele profusa que se funde a tua torcida fibra". Menina minha, nossa história que sempre lembro alucina, não passa de um receptáculo de ervas daninhas... Do contrário, como explicar a fantasia agora derruída dos planos decantados na tua poesia aparentada ao jardim verde e morto de meu recém-construído túmulo?



Quentura de discípulo traído, fiel escudeira esquece em minhas partes teu regojizo. Soleira de porta, alheia ao crepúsculo ferido, ser poeta é sê-lo no sentido heróico do verso recém partido... terei fechado o caderno em minha consciência se ser poeta é sê-lo na falta de lucidez, se sê-lo senão é latência híbrida...vem me embarca em tua prosódica esfera rosada, vem digere a lama da tumba, minha caótica morada. Vai e vem com o teu senso avergonhado, sacode a foice em teu rosto trigueiro, me esquece no obscuro lampejo ... desembaraçado, teu cacho escorre pelos anéis dos meus dedos e se sê-lo poeta é, eu me vejo em teu parco seio direito. Aluga a casa, finca o pé no simulacro dos nossos desejos, recite o título em duas linhas e deixe a velha figueira vazia, vem e vai Camila em meus evidentes pesadelos...

Por ÍcaroReverso e Aninha Terra.

15 de dezembro de 2008

Anatografia*



Dessecaria o subcutâneo do espírito que ainda me habita, com a incisão dos seus movimentos a partir da minha retina, Mona Sofia. Beberia as lágrimas dos canais de Veneza, buscando o que sobrou do seu aroma; trocaria o sangue das minhas artérias pelo perfume que já passou pelo teu corpo.

O acesso proibido aos seus pesares e amores; a falta e o excesso; a sua pele que dá marco zero à anatomia do belo – meu desespero. O que te torna impossível às minhas unhas são os séculos, ora, a erupção de edifícios, o jorrar de táxis entre ônibus entre vans entrecortados nas esquinas, nos prostíbulos paulistanos, nos ventrículos de Belém do Pará, para a massa, para a fumaça, os muros grafitados de desdém. Pode o amor ser atemporal?, engulo seco o molhado da tua língua, da tua íris, teu clitóris, teu cadáver sepultado logo ali, tão longe, ainda que há tempos outros. Nós, os outros. Outro agouro ao verter a saliva em desejo pelo inexistir. A plenitude do amar o amor vago da ficção. Busco sua voz no tom da operadora do zero oitocentos, o seu toque num esbarrar na fila dos ingressos do teatro.

Trocaria meu tecnológico pelo teu arcaico beijo, ou algum lampejo de ira e sedução obrigada. Do abrigo do teu peito público, fugiria deste futuro em que fui arremessado, deste lugar tão distante de onde jaz o que sobrou da sua graça. Somente para ser seu, te dar o que tiraram.

Teu feminino costurado na pele da minha nunca, para nunca mais te querer assim. Teus merecimentos ofertados para que possa desprezar, se quiser. Falo arrancado por teus dentes em troca do seu sorriso. Procuro os vestígios do seu conceito nos olhos das mulheres todas, nas mãos delas. Tê-las em você em segredo então. Em tão poucos cortes posso abrir o peito e encontrar o vazio da obsessão por uma idéia sem cor, sem vida. Escancaro o diafragma de uma máquina fotográfica pra te ver na sombra, pela sombra, me assombrando entre as frestas criadas por bisturis.
***
*Inspirado no livro "O Anatomista", de Federico Andahazi / Foto: Robinson Machado (ensaio Amor Veneris)


13 de novembro de 2008

Melissas

"Trabalho é o refúgio dos que não têm nada para fazer."
"Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas."
Oscar Wilde
Lembro quando mascamos cidreira pela primeira vez. Era tanto sangue, que a gente ria vermelho. Mas a gente ria. Por enquanto, não estou bem certa sobre onde estamos; essa poeira, esse enxofre todo. Uma igreja, ou um puteiro; vai saber. As paredes se fecham sobre nós do mesmo jeito. A barriga congela tantas vezes por minuto que minha saliva está em neve, pelos cantos da boca. Porra, isso aqui é tão escuro que não sei se você chora quando digo essas coisas. Talvez seja melhor. Um quê de sufrágio por baixo dos panos, como as beatas. Você sabe. Ao menos, no breu a gente ilumina aqui dentro, a partir dos ossos. Os ossos... Deskullpe, não notei que pensava outra coisa. Não tem eco aqui ou não saiu palavra da minha boca? Às vezes isso acontece, não sei se disse, se pensei. Se lembrei ou sonhei. Você sabe. Queria inventar um advento tecnológico que funcionasse como um biógrafo-full-time. Um cacete microscópico qualquer grudado na pele, registrando tudo; tudo mesmo. Tem cidreira no meu bolso. Mas depois a gente sai daqui. Mascaremos tudo. De sidra às maçãs cidreiras das faces que nos são caras, escarlates por sob ou sobre nossas máscaras de escaras; de trevo às trevas que não sabemos se nos reserva melhor sorte, pior morte. Estar por dentro da escuridão é saber que no escuro somos todos negros. O que não está dado, não se joga; o que não se vê não se sente. Falei para não sentar porque se o que vejo brilhar aí não for dois rubis periga serem olhos de serpente. Ver de mais perto é provar se é madura ou se malevolente pica. Cobra de mim calar-me e peçonha comigo o mesmo plano oblíquo. Pensemos que sem saber se é cega, há; pois com certeza talvez ela esteja aí. Cego sempre houve, o que não ouve é surdo. Na essência, no âmago de si o osso: tenha tutano! Tenha sangue, mas não sangre. Nesse inferno arDemos por aJudas, e para isso o puteiro ou a igreja serviriam, mas aqui não sabemos; a amarelinha desse veneno é anti-douta, pois é no contrapulo que se decide o pisar ou não, para matar ou morrer. Certo é que a maldita é de não dar pé e não conhece outro brinquedo que não o pique-esconde. Picar a mula nem pensar, não é? Você sabe. Espere... troquemos de pele. Sejamos cobras em nosso ofício, ofídicos em interpretar nosso gênio ruim. Eu não sei você, mas tampouco sei eu. Você sabe? Eu sabia que não. Nós não somos mais do que soul. Comportadas em uníssono como um comum. Um único terror nas duas almas que percorrem o mesmo espinhaço. Uma vós que os espíritos do medo do espírito comungam. Um único arco de dois pilares, ruídos. Mas ouça, são tuas as vozes na minha cabeça. O que você tinha no teu bolso era a memória, o zumbido que falta no olvido não é pela pouca profundidade apesar da distância, mas o futuro lá fora, o que ficou atrás da gente. Sabemos demais por sermos jovens, o que se resolveria com o tempo. Vamos morrer aqui mesmo? Na vida que pedimos a Deus? Não! Que não pedimos por vida alguma antes da vida mesma; se fosse esta morte um acidente de trabalho e não de lazer devoluto seria devolVIDA. Tanto os nervos como os espasmos ecoam por que há o entorno. Calavam em nós porque é da essência mesma da cidreira, selvagem e verde, justamente como nós duazinhas aqui. Embota-nos como a bocarra do sono em seu bote. Não desmaie, ainda é março. Só sue para se manter convincente no papel de veranista, ainda estamos de férias. É a vida, a vida! Esses espelhos nos teus olhos, esses labirintos nos teus ouvidos, ambos me levam para fora daqui, bem agora. É seu único caráter e é meu único papel numa sucessão de momentos como esta entre nós. Saia comigo. Veja o dia ainda claro, até mais claro agora do que quando entramos, este amarelo no alto, que encarado de perto é amiúde tão negro. Ouça as abelhas zunindo atarefadas a polinizar a erva; escute o zunido delas que não é o do asar de seu vôo, mas o do azar de seu enjôo; o campo repleto de cidreira verdejante, de brancas flores, é seu escritório, sua sina; por uma questão de vício ou ofício, ao contrário de nós, estando em meio à clara amplidão, a abelha sonha zangada com o claustro escuro de sua colméia, ali apenas se sente mais si. E como nós duas, todas as abelhas são a mesma abelha. Não sei se você sabia. Sei que ainda nos vão ver e que nos lerão à luz de um sol do mesmo mel dessa nossa penúltima estação à sombra de um outro branco em flor. Está prestes a poder ser dito que estava escrito. Qualquer lugar é aqui e sempre haverá época. Verão apenas no final.
Por Robinson Machado
& Aleph Davis

28 de outubro de 2008

Autocríptica



Num interstício entre qualquer quando e incerto onde, sem depois do que sonhara ali se lembrar, ele acordou sexagenário. Salivado desde o pélago onírico, consubstanciado ainda na roupa do leito. Acordado de acordo com os berros de repente senis. Por sessenta e um segundos imprecisos conservou-se taciturno sobre a cama cuspida pelo corpo. O seu esquelético corpo ordinário, sem rabo, sem asas, sem patas. Asquerosamente. Monstruosamente. Humano.

De pé, trovoado com ímpeto ao solo, esquadrinhou a janela por fissuras, inutilmente. O quarto estava três quartos sujo, a era suja do quarto. Todo um mundo imundo como uma curva de rio, como a memória, igual aos seus planos. Quis entregar-se novamente ao regaço do sono, o que teria conseguido não fossem os ecos daqueles gritos, nos outros cômodos da casa. Tampou os ouvidos com seus dois dedos de lêmure, com os quais não fez senão cutucar os vermes cerebrinos. Girando em círculos, perdeu-se no espaço tão pequeno, de dó dar. Em debalde procurou cama e comprimidos. Caçou o penico. Perseguiu os livros e o espelho. Nada. Nem as paredes, nem o teto, nem mesmo o chão. Peão naufragado no eixo da realidade, extraviado do resto, menos de si. E por isso mesmo, mais perdido! Ele percebeu que seu próprio sangue perigava inumá-lo e tentou se mover, o que não fez por pura púrpura abulia. Então, perpendiculou-se.

Procurou um canto para se sentar, para sessentar. Sentou-se sobre o carcinoma do seu cu violentado e, balançando-se nele, para frente e para trás, como se, respectiva a mente ora planejasse o passado, ora lembrasse o futuro, semeou nos lábios os caninos, para não sorrir. Logo rebentaram as tulipas liquefeitas de seu olho mais esquerdo, lavrado de terçóis. Não é que algo tenha doído, tinha do voltado.

Ele germinou três lírios, um em cada extremidade fértil de sua boca telúrica. Seus olhos de novo serenaram em cataratas gélidas de orvalho e breu, o que principiou a se precipitar. Quando reumaticamente suas mãos verruguentas transfiguravam-se circenses numa rede de amparo a salvar cadáveres esquisitos, os do seu semblante, de pele cambiante com as estações. Trapezistas que caiam para se misturar na rede, por vezes mesclando-se uns com os outros antes mesmo de chegarem, como que por pressa. Uma vez no bojo da trama de linhas da cabeça, do coração, da vida, reciclavam-se os cílios em ciclos, que a debandar se vão pêlos furos, ampulhetados.

Permaneceu inerte até não suportar a visão da morte, defronte da dictiopsia dos olhos. Moveu-se como a aranha que acaba de sair do ventre, a deixar um rastro de reflexos diluído. Seguiu até aquilo que estranhamente lhe pareceu ser uma porta, sem fechadura, maçaneta, nem nenhuma fissura. Reconheceu-se nessa porta hermética agora novamente tão familiar, era a mesma eterna porta tão fechada que com portas teve nunca nada em comum. Ele se diria mesmo que se tratava não de porta, mas de uma extensão da parede, ou a própria parede. E a janela, da mesmíssima forma, existia tão somente em sua alma de homem. Apenas ele podia ouvir seus próprios gritos lá fora.

por Romiéri

& Aleph Davis

21 de outubro de 2008

dia logo se es vai

Digo.

As pernas cruzadas, os dedos cruzados, os cruzados novos não trocados ante a nova moeda. A cruz e a espada da crueldade infantil. O cru; assim e assado. Um cruzador de canhões cânones do sacrilégio, cruzando o Tietê em dia de chuva, dia de enchente, dia de transitar São Paulo. A encruzilhada é o pretexto da esquiva.

Responde.

Entrecortado pelo formigar da perna, dos dedos da mão esquerda, da nota suja de dois reais. O crucifixo do sufixo aposto do oposto. O frito, cuspido e escarrado. O Cruzeiro do Sul guia a nossa senhora comprada à bala, boiando no rio em janeiro, em noite seca, noite de vomitar o engarrafado. Mas que sacro.

12 de setembro de 2008

Miss Tanatos


O anil da vulva se misturou a um desencanto desencadeando prantos e piernas para el aire
O caráter profilático da tua boceta, leve, carcomido, sobrevoa aquela laguna Plena de cancerianas pênias cavalgadas por caranguejos e outros signos tortos
Sem simbolismos ou representações nossos mamilos pulsavam diretos e vivos;
na transmissão impalpável de uma morte que nos parecia concreta
A cada frasco quebrado o transvasamento de nossos corações de plástico
Das ondulações liquidas do Triton vulgaris sentimos um flato de totalidade invisível
A rocha estrangulada pela lagrima do caracol fuzilado espera invejosamente pelos escombros de Sisífo.
Miss Tanatos se apercebe da lisura do falo no precipício
E convida três crianças para flertar na balada com absinto
Pasmada, soturna, coroa, Miss Tanatos recheia, na lagoa,
porra com desatino

Por IcaroReverso & Romiéri

13 de agosto de 2008

Saída de Emergência


Acionar o alarme, após abrir o compartimento e destravar a machadinha ensanguentada. Chamar o vigia, que esperará na porta com arma em punho. Não esqueça de fechar o zíper da calça, sem respingar o mijo na cueca. Antes com o jato do seu mijo você destruia uma parede, agora só serve para molhar as ciroulas. O aparelho de aumento peniano você colocou na quinta gaveta da cômoda, o móvel velho ao lado do lavabo. O tubo é super resistente e sua forma é ideal para a prática de vacuoterapia. O vigia, impaciente, retornará para a poltrona na entrada do edificio. Lembre-se: o gel lubrificante gratuito, facilita a introdução e o deslizamento.

O sinal de alerta vibrará junto com o sistema acoplado à parte externa do tubo. PIPIPIPIPIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII. Colocar o anel de silicone para prolongar a ejaculação. USE ME e ABUSE ME, leia na última linha do contrato. A teraupeta recomendou o uso três vezes ao dia, por isso abra a janela, seu conforto na arte de amar jamais será o mesmo. Devido a sua teimosia, o vigia proibirá qualquer visita. A estrutura de ferro e o assento emborachado possuírão as medidas ideais para o vai-e-vem da circulação sanguínea. As tiras de nylon deverão ser ajustadas e o prepúcio cobrirá a haste quase que inteira. Retarde o ápice com as cinco bolinhas em tamanho progressivo, vinte minutos depois um exótico aroma de kiwi invadirá sua narina esquerda

... ... ...

Encerrada a sessão, lavar somente com água fria Deixar secar naturalmente à sombra. Não utilizar toalhas, panos e papéis. O talco de amido de milho preservará a vida útil da peça. Recomenda-se cautela aos hipersensíveis, em virtude da voltagem muito acima do normal. Alucinado, o vigia esmurrará a porta e explicará que você esqueceu de tomar a Canaviguara para um melhor desempenho. Você emitirá um grunhido de dor... já que a luva massageadora interna acabará de romper a túnica albugínea que envolve os seus corpos cavernosos. È uma lesão incomum, causada pelo trauma abrupto, acompanhado de dor e tumescência. O vigia invadirá o aposento, com uma das mãos irá carregâ-lo para a sala de cirurgia. Colocarão um conduto de látex dentro da uretra que permitirá drenar o seu mijo. Possívelmente em trinta dias, você voltará as gotas amareladas nas cuecas brancas.

8 de agosto de 2008

Palavras-valsa Pseudo-falsas

Rogai por nós agora e na hora do nosso nascimento.
T.S. Eliot

As mães não querem mais filhos poetas.
Hilda Hilst

OVNIs passariam despercebidos neste céu despedaçado por cegonhas bio-mecânicas & seus micros-bebês de silício bombardeáveis sob o bater de asas do amor à direita de quem vê & nessa arquitetura interminável de lixo cósmico despencando serial o insondável do outro olho dos tubarões-sereias ainda adolescentes de Schiele vê as próprias gargantas-filtro a engolir castrados meteoros koscher & nisso contemplo o pus das constelações de nata dançando através das laringes das nuvens de lingerie agonizando tempestades radioativas sobre uma moribunda defloração dessa natureza imprevista por São João & é porque gosto das gotas do complô de chumbo a fuzilar flamingos ácidos fluorescentes de se olhar sem qualquer motivo aparente que me dou ao luxo de revelar tudo em cores desse tamanho & assim como Hitler/Caligari amo masturbar todas as andorinhas cíclicas ancoradas no verão bienal do meu inferno retorno contemporâneo & não saímos com ESCândalo da catastrófica estrofe esquartejando quadris de ABABelar ventres mais livres de se cauterizar com pólvora & sei que insólito existe um escopo de beleza indecifrável nos cânceres de pele inadjetiváveis da estação que Resnais/Duras & anti-hipocráticos semi-deuses de branco extirpam eficientes os pacientes vestidos com a nudez dos respectivos tumores-step sobressalentes excedentes da produção em massa de pizza & os estudos mais loucos da paisagem descolorada de tão cândida mancham vertigens do se achar perdido in ver nada demais em soterrar de bombas a Academia & os sem-terra vão ser sem-teto na reforma agrária das necrópoles de novas florestas petrificadas quais totens dos índios gripados pela idade repentina dos metais medalhistas & só com esse ar lavrado de cromossomos embriono-me andarilhado pelas pedras da calçada onde se desolam os meus pisantes de Pompéia a Hiroshima & o cogumelo da ironia irrompe com mil caralhos que são o mesmo tsunami nas várias performances a fazer canoas afundar no turbilhão de sargaços da maré baixa da consciência & meu corpo não me abandona mais se as minhas almas pálidas não querem se confederar na magna solidão vulcânica dos meetings sionistas de NY & quadrilhas de pianistas com dedos reumáticos digitam notícias históricas de delícias histéricas para serem quadrinizadas na arte seqüencial dos últimos orgasmos do outono & a nossa prof. Aníssima é ainda toda MSNorte da demi-ideologia em Estado de graça por que co-leciona lugares in loco com tudo pago pelo Feminismo & essas memórias dos mares natimortos fazem cócegas no meu nariz groucho-marxista enquanto calejam realidades mais recalcadas num calcanhar de Aquiles de forte chulé & aí há uma janela de silêncios deserdados no que grasna um corvo-escorbuto para a rosa flor de laranjeira bem grafitada numa cova olímpica no Tibete & ela está dissecada estéril na mesa ginecológica de Burroughs parecendo uma ossada de clone de cavalo baio ao molho herói & Ícaro daria todo um unicórnio por pégaso ou dar-se-ia até um reino deste mundo por um centauro mesmo desmontado & a esse produto da queda vêm destroçar os mestres-escravos que alheios em coro chupam tais ossos a roer até os próprios dedos aciganados por anéis de escambo & no nanoscópio femoral vejo com eles um demônio de Giger fossilizado na descoagulação do chouriço cavalheiresco desse hiper-animal maquinal o Golem/Frankenstein das eras & todas as haciendas/plantations de maconha da América não bastam para nos embotar os estertores sincopados de abortos-haraquiris contra os Pro-Life da Opus Dei & na jardinheiragem dos prólogos as primas cobras-cravo temperam as artérias que brotam do Terceiro Mundo 3D desde o Sol desconjuntado por mornos espantos estivais & seus venenos raciocinantes de insípidas sépias desabrocham dos semblantes encalacrados da História da Civilização Acidental & na teodicéia de mônada dos nossos cus entupidos por relóginhos cor-de-rosa pulsa um ao redor da catapulta-porrada de Deus onde voltam a nascer os mais monótonos entressaias & essa é bem aquela retardada que continuaria postergando a hora do renascimento dos príncipes-mandrágoras alucinados de néon com aspirinas & a raiva seca do grande estio deste mês de cachorro louco é o oito/oito/oito a trindade de infinitos hidrófobos quando afinal irrompe a abóbada celeste a pingar suor desde o períneo do Senhor & toneladas de refluxos são insanos regurgitados do alto mais perpendicular aos dilúvios sobre o sacrifício da Alphavella do terceiro milênio a contar carneiros para ver se nos ressuscitam & Stravinsky sempre sangra a primavera inverossímil dos mísseis teleguiados por mais óleo esburacando ninfas emburcadas no errado de um tempo-espaço descoordenado & os carros analgésicos do horário nobre alçam funcionários do décimo terceiro salário dos últimos juros sobre juros da replicância capetalista & a reflexão embaçada está na Lua cheia agora vazia no mar da tranqüilidade onde já habitaram ratos suíços que são mirantes de ozônio para serem marketings de silicone com tudo marchetado no esquecimento & esse satélite sobrenatural se invertebra calendarioso na mesma sombra com que empalara um escafandrista vermelho que nos acusou de azuis & a música plena da idiotia que rebola em uníssono não é fúnebre como o ouro verde tirado com arte bruta do nariz da vaca de nariz sutil & nos flashbacks das séries de TV venérea o ciclope caolho das verdades mastiga Robinsons e cabras coalhados de pincéis-tocha na mão com gritos & a senhora Europa é um zoológico de bacharéis onde quem colhe e recolhe dejetos abjetos é o fantasma tarado de um Velho Incontinente que ainda ronda & é o perverso da medalha que me põe comovido como cavaconhaque dentro dos corredores de anais onde tantos Van Goghs se suicidam pela orelha de couves do Pentateuco & ninguém entende o inteligível das receitas para se fazer Fellinis com fezes inabaláveis nas mímicas ensurdecedoras dos miolos descongelados nos micro-ondas da imaginação carnavalesca & a fome voraz grassa nos afro-cernes marionetes do mundo podre de pobre de espírito de porco zombeteiro & as madrugadas travestidas de noite nos embotecam sabujos abrindo bares desde que raiam Sibérias de um mesmo dia amante eterno riscado de giz caucasiano & cada vez mais minha pro-confissão é de não ter desrazão suficiente para orar com dois punhos serrados no horizonte semicerrado dos olhos de Galileu & ainda neles sempre é onde um pastor-espada recordista testemunha de Saravá ou até pior um globo-cu-lar de padre-martelo prega uma linha devida mais certa nas mãos tortas de outro poeta cuja pena já era um escrever para devolver toda essa AIDS.

quando de um
8 oito VIII
por Romiéri &
Aleph Davis

23 de julho de 2008

Clandestino

De aborto em aborto, o santo se enche de gozo. Se os homens engravidassem, o aborto já seria legal!

18 de julho de 2008

Sois sóis

Randômico na prosa, a prova, o provado, o provador. Randômico na escrita, a cripta, a crise. Incrível como nós. Sois sóis. Somos sós. Randômico bestiário, metade inteira – inteiramente ao meio. Não disse a que veio. Cheio estio. Invernifica.

14 de julho de 2008

A despedida

Vai, me conte de você, das suas obsessões. Tudo bem, justo quando começou a calvície o chapéu saiu de moda. Na verdade, eu acho que tudo tem uma certa relação. É... necessidade estranha de ser o que não se pode. Fico colecionando idades... o que você disse? A ansiedade toca as minhas mãos e me fez desaparecer em litros e litros de água contaminada. Por que você decidiu ficar bêbado hoje? São paranóias adultas de levar o cu para passear...Você pode me explicar ? Os caipiras do sul vieram urbanizar São Paulo e eles tinham alguma coisa contra o chapéu. Aaaaaaaaaaaaaaaaaa o refúgio. O stop baseado em vinho e Santa Isabel. A realidade bate, não vamos abrir? Diga que dá pena ouvir, pois não vai sair nada. Estamos na hora de vagar porra, atrapalha a realidade, não? Eles se fartam dos meus frutos, o imperador persa encerrou as contas. Terei que trabalhar? Só perambule pelos meus sonhos. Pesadelos? Passe adiante o peso não dói... Sua mãe tem o rosto mais delicado que o seu. Sei, sua percepção está atualizada. Espera até abril...a minha cegueira acabará. E as ameaças de morte, iniciarão? A gente vive na marginalidade não há sentido...Eu me deprimo, amanhã partirei. Você pode me dizer? Deus sempre atrapalha tudo! Procure a Rita e não diga asneiras... Prefiro entender o quatro ao quadrado. Lave louça que passa, há muita roupa no varal. Preciso me depilar... talvez saia alguma coisa. A minha bunda não cabe no assento do vaso, eu disse para comprarmos um maior. O quê? O quê? Use as argolas no pulso, a vermelhidão desaparecerá. Odeio...odeio vestir esses sapatos. Eu disse argolas. Se livre desses livros, por favor. eu pedi há tempos. Não entendo a paranóia, todos fechados e nem fazem ruídos...É irritante! Sempre tropeço nas estantes, você é sensível? O seu cu pulsa, percebi quando você comeu o strudel. Odeio leite morno...a colher é muito rasa. Então coma as raspas de limão. Eu disse para você me falar das suas obsessões, não de laranjas. A pressão atmosférica caiu, deu no jornal. Abre a enciclopédia, leia o trecho sobre a elevação do ar quente. Não aguento o hemisfério Sul, o ar sempre circula no sentido horário. Então vá buscar o seu olhar...só não vale adendo. Adeus, levo os muffins de queijo e azeitona. Olha...olha! o palito saiu limpo e seco, não é o momento de partir. Odeio política, você sempre soube, não me dirija idéias esquerdistas. Sem problemas, distribuirei tudo em forminhas e serei o recheio misturado delicadamente a sua massa. Amanhã...sem delongas, partirei.




Rotina teatral

— Antes, você falava de tão perto, que ouvia o descolar da sua boca antes do seu hálito embaçar meu brinco.
— Não queria te olhar nos olhos.
— Antes você me abraçava.
(pausa)
— É.

10 de julho de 2008

Maneira Constante

Cacoete de poeta

É trejeito escritural

Feito de coleta

Viciosa corporal




Cacoete de poeta

É hábito fatal

Feito de esteta

Predileção animal




Cacoete de poeta

É escrito findo

Feito de pugilista

Automoção idealista




É cataclisma retido

Cacoete de poeta

Feito de sustenido

Trépido retorcido




É jeito verbal

Feito de recital

Cacoete de poeta

Prosa dual

4 de julho de 2008

Quis-me, Baby

Quis poder reinar
para desobedecer ditador e o tiranizar

Quis entender olhar
para correr no escuro sem desabar

Quis crescer abismar
para caber no mundo e não caber em lar

Quis esquecer jantar
para prever a noite do cálculo biliar

Quis morder beijar
para adormecer donzela e com ela deitar

Quis sorver devagar
para escorrer o rio e a veia jorrar

Quis aprender surfar
para pertencer à praia e ao topo do mar

Quis merecer molhar
para chover na areia sem onda quebrar

Quis fazer sangrar
para verter noite em quem vampirizar

Quis meter matar
para ver a meta mentir sem calcular

Quis conter vomitar
para beber vinho e cerveja e até o bar

Quis ofender azar
para conter a sorte no jogo do amar

Quis saber tocar
para morrer jovem e guitarras quebrar

Quis sofrer burlar
para pretender apenas preconizar

Quis dever viajar
para conhecer sobre a lua e sob o luar

Quis mexer atar
para sofrer estático sem parar

Quis querer criar
para escrever versos e fazê-los rimar
uma fusão
além de ser-estar
de Aleph Davis
e Robinson Machado
junho/julho MMVIII

23 de junho de 2008

Des-coletiva

( Indian dancer, 1930, Hanna Höch)


Lugares oníricos existem, eu temo em tomar o primeiro ônibus que passa.
Fico estarrecida com a minha falta de foco, o olho desforra o abecedário. Miopia ao contrário, fato já muito dado. Não li as letras pequeninas.

Quero partir num Coletivo com pátria criola. Desça ao sul e na cabeceira um vulcão. Eu me naturalizaria "despátria". Glauber seria o mestre. E Antigua o nome da minha toada.

No seio esquerdo, a libélula
Encruzilhada de jabuticaba
Seios abertos
Respiração engavetada.

17 de junho de 2008

Gritemos

Queria me dizer triste; criei uma metáfora sobre unicórnios confinados. Para as críticas, destruí as construções gramaticais e – letra após letra e novos acentos – inventei uma nova linguagem. Só para me frisar livre. Celebrei Borges e vacilei ante às bifurcações para contar que estava entediado num fim de semana qualquer.

No entanto.

Quando meu rosto recebia o carinho de outro, falei da tristeza sem texto, sem prezar pela construção de frases. Ao me indignar com um mal-atendimento na livraria, fui direto e moderadamente agressivo. Quando estive entediado, deixei o tempo passar e falei de futebol, música pop e do frio que chegou.

Cada grito tem seu espaço. Pergunte ao eco.

2 de junho de 2008

Democratártico

Um ônibus, a partir de olhares otimistas de sociólogos de ocasião, pode mesmo ser remetido a nobres conceitos. Inclusive o de coletivo, nos sentidos “igualmente livre e fraterno”. Oui, o busão como símbolo da democracia, do trabalho e do direito de ir e vir. Então vamos que vamos.

Surgiu na França, cidade de Nantes, mil oitocentos e pouco: colocaram mais bancos nas carroças de diligências francesas, vejam só, se entrava por trás e as rotas eram predefinidas. Foi criado por um ex-militar, que vendia banhos em chuveiros públicos na França do século XIX; empreendedor o rapaz... Para facilitar a busca de clientes, criou o que pode ter sido o primeiro sistema organizado de transporte público. Em menos de meia década, os novos “omnibus” já circulavam em Paris e ganharam o mundo.

Mais tarde, os bondes viriam diminuir os solavancos. Prato cheio para a análise dos antropólogos de plantão. Mas sabemos que não viria a dar certo, pois a leveza e o silêncio não-trepidante dos trilhos obrigavam os passageiros a conversar por obrigação. Não, obrigado.

O melhor diálogo é o que supera o barulho do motor, o ranger da estrutura metálica, o tumulto, os pisões, os odores, os contatos ocasionais dos sexos, o respirar coletivo, o calor, o frio, a freada brusca, as paradas, as corridas, a catraca enferrujada, a fumaça. É a superação por meio da igualdade coletiva. É a escolha pela liberdade de se buscar destinos comuns. É a dádiva de se reconhecer como bem-vinda qualquer oportunidade de fraternidade forçada. Touché.