2 de junho de 2008

Democratártico

Um ônibus, a partir de olhares otimistas de sociólogos de ocasião, pode mesmo ser remetido a nobres conceitos. Inclusive o de coletivo, nos sentidos “igualmente livre e fraterno”. Oui, o busão como símbolo da democracia, do trabalho e do direito de ir e vir. Então vamos que vamos.

Surgiu na França, cidade de Nantes, mil oitocentos e pouco: colocaram mais bancos nas carroças de diligências francesas, vejam só, se entrava por trás e as rotas eram predefinidas. Foi criado por um ex-militar, que vendia banhos em chuveiros públicos na França do século XIX; empreendedor o rapaz... Para facilitar a busca de clientes, criou o que pode ter sido o primeiro sistema organizado de transporte público. Em menos de meia década, os novos “omnibus” já circulavam em Paris e ganharam o mundo.

Mais tarde, os bondes viriam diminuir os solavancos. Prato cheio para a análise dos antropólogos de plantão. Mas sabemos que não viria a dar certo, pois a leveza e o silêncio não-trepidante dos trilhos obrigavam os passageiros a conversar por obrigação. Não, obrigado.

O melhor diálogo é o que supera o barulho do motor, o ranger da estrutura metálica, o tumulto, os pisões, os odores, os contatos ocasionais dos sexos, o respirar coletivo, o calor, o frio, a freada brusca, as paradas, as corridas, a catraca enferrujada, a fumaça. É a superação por meio da igualdade coletiva. É a escolha pela liberdade de se buscar destinos comuns. É a dádiva de se reconhecer como bem-vinda qualquer oportunidade de fraternidade forçada. Touché.

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